A obra política-filosófica de Arendt, reflete o contexto social em que viveu, partindo da ótica da política como referencial e, como mulher, fugiu à regra do tradicionalismo do cenário filosófico e do engajamento político ser demarcado pelo sexo masculino. De fato, como mulher e judia, viveu o Estado totalitário e o monopólio do medo, quando houve a ascensão dos nazistas ao poder e da perseguição aos judeus na Alemanha, o que a fez emigrar, definitivamente, para os Estados Unidos.
A sua produção intelectual foi influenciada pela concepção de Estado Moderno de Max Weber, que preconizava o uso da força física no monopólio do poder. Desta forma, a obra de Arendt concede um rico panorama sobre a implantação e organização totalitária, a sua propaganda, o modo como manipula as massas e se apropria do Estado.
É importante ressaltar que, mesmo sendo adepta da concepção weberiana de Estado (monopólio do uso da força), Hannah acreditava no princípio da banalidade do mal, o qual, preconizava a disseminação do terror e medo por agentes burocráticos, designados para torturar e matar impiedosamente.
Para Arendt, o princípio do medo anula a esfera política, ou seja, o terror paralisa a ação política, as discussões e as vontades humanas de querer mudar a sua realidade política, o que inviabiliza a sua própria condição humana.
Os movimentos do totalitarismo político ocorreram no contexto histórico da ascensão dos nazistas ao poder na Europa e, conseqüentemente dos seus representantes, Hitler e Stalin.
Com a ascensão de Hitler ao poder, os judeus já não ocupavam mais posições nos bancos alemães e, eram então, o alvo do terror dos nazistas. Por sua vez, os judeus, perdiam o seu valor, por serem vistos como aqueles que não possuíam raízes em nenhum país e nem pensavam em outros interesses políticos, mas sim nos particulares.
É importante destacar que tomar o povo judeu como vítima do medo e terror, não foi uma atitude impensada ou sem planejamento, mas decorreu de uma estratégia política, que serviu sob medida para a determinação do totalitarismo, o que só seria possível com a aprovação da maioria, do medo e terror, como estratégia de controle político.
Em suma, os grandes ditadores legitimados pelas multidões, tinham a autorização da maioria de agir com o uso da força e do mal, consideradas ferramentas políticas eficazes para o monopólio do poder e o controle das populações em massas, empolgadas pelas demagogias sedutoras dos donos do poder.
Ainda, é relevante ressaltar que os nazistas ascenderam às posições de comando na Alemanha, com o apoio majoritário da população em massa. Por sua vez, os seus comandantes, principalmente Hitler e Stalin, utilizaram a propaganda como meio de difundir o mal como um atrativo sedutor, fazendo com que, as massas pudessem confiar e dar crédito aos nazistas, pressuposto indispensável para a manutenção destes no poder.
Faz-se fundamental a ressalva de que totalitarismo surgiu por meio de mecanismos como a polícia, a propaganda e o terror, considerados como o tripé orientador do totalitarismo, e não, por meio de um golpe de um ditador desenfreado.
Desta forma, o desenvolvimento do Estado-nação está intrinsecamente relacionado ao anti-semitismo moderno, o qual banaliza atitudes cruéis, através de assassinos que matam impiedosamente, com o único objetivo da concretização da conquista nazista ao poder totalitário.
A consolidação dos regimes totalitários se deu pela sustentação do apoio das massas. Por sua vez, os elementos principais do projeto de regime totalitário tinham pressupostos como utilizar o terror como meio de disseminação do medo e dor, transformar classes sociais em massas e promover movimentos de massas, bem como transferir o poder do exército para a polícia.
Assim sendo, a prática do terror, assumiu a forma política e ideológica do regime totalitário, o que permitiu com que os grupos opressores agissem sem impedimentos, já que o princípio do medo neutralizava a ação política dos homens.
De acordo com Hannah Arendt, o terror não poderia apenas ser considerado uma disseminação do medo, mas um instrumento político, que determinava a forma de governo dos que mandavam aos que obedeciam, ou seja, com a aprovação das massas. Desta forma, o medo, como principal ferramenta do totalitarismo, anulava a participação e a crítica, bem como a ação política dos homens. Assim, a legitimidade do poder dos líderes no regime totalitarismo foi marcada intensamente pelo apoio das massas.
A crítica da razão governamental totalitária de Hannah Arendt ainda é pertinente na atualidade, tomando como exemplo, os genocídios, a acumulação de refugiados e outras questões contemporâneas. Para estas indagações atuais, vale ressaltar que a obra de Hannah Arendt, deve ser consultada como fonte clássica dos grandes fenômenos da filosofia política.
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