segunda-feira, 23 de agosto de 2010

HANNAH ARENDT: governo com terror


A teórica política Hannah Arendt, nascida de uma família judia, na Alemanha, na cidade de Hannover, em 1904, muitas vezes conhecida como filósofa política, foi grandemente influenciada pelo filósofo M. Heidegger, na época da Universidade de Marburg, com quem se relacionou não só no campo intelectual, mas também no afetivo. Posteriormente, na Universidade de Heidelberg, K. Jaspers, orientador da sua tese de doutorado, também exerceu forte influência sobre a vida e obra de Hannah Arendt.

A obra política-filosófica de Arendt, reflete o contexto social em que viveu, partindo da ótica da política como referencial e, como mulher, fugiu à regra do tradicionalismo do cenário filosófico e do engajamento político ser demarcado pelo sexo masculino. De fato, como mulher e judia, viveu o Estado totalitário e o monopólio do medo, quando houve a ascensão dos nazistas ao poder e da perseguição aos judeus na Alemanha, o que a fez emigrar, definitivamente, para os Estados Unidos.

A sua produção intelectual foi influenciada pela concepção de Estado Moderno de Max Weber, que preconizava o uso da força física no monopólio do poder. Desta forma, a obra de Arendt concede um rico panorama sobre a implantação e organização totalitária, a sua propaganda, o modo como manipula as massas e se apropria do Estado.

É importante ressaltar que, mesmo sendo adepta da concepção weberiana de Estado (monopólio do uso da força), Hannah acreditava no princípio da banalidade do mal, o qual, preconizava a disseminação do terror e medo por agentes burocráticos, designados para torturar e matar impiedosamente.

Para Arendt, o princípio do medo anula a esfera política, ou seja, o terror paralisa a ação política, as discussões e as vontades humanas de querer mudar a sua realidade política, o que inviabiliza a sua própria condição humana.

Os movimentos do totalitarismo político ocorreram no contexto histórico da ascensão dos nazistas ao poder na Europa e, conseqüentemente dos seus representantes, Hitler e Stalin.

Com a ascensão de Hitler ao poder, os judeus já não ocupavam mais posições nos bancos alemães e, eram então, o alvo do terror dos nazistas. Por sua vez, os judeus, perdiam o seu valor, por serem vistos como aqueles que não possuíam raízes em nenhum país e nem pensavam em outros interesses políticos, mas sim nos particulares.

É importante destacar que tomar o povo judeu como vítima do medo e terror, não foi uma atitude impensada ou sem planejamento, mas decorreu de uma estratégia política, que serviu sob medida para a determinação do totalitarismo, o que só seria possível com a aprovação da maioria, do medo e terror, como estratégia de controle político.

Em suma, os grandes ditadores legitimados pelas multidões, tinham a autorização da maioria de agir com o uso da força e do mal, consideradas ferramentas políticas eficazes para o monopólio do poder e o controle das populações em massas, empolgadas pelas demagogias sedutoras dos donos do poder.

Ainda, é relevante ressaltar que os nazistas ascenderam às posições de comando na Alemanha, com o apoio majoritário da população em massa. Por sua vez, os seus comandantes, principalmente Hitler e Stalin, utilizaram a propaganda como meio de difundir o mal como um atrativo sedutor, fazendo com que, as massas pudessem confiar e dar crédito aos nazistas, pressuposto indispensável para a manutenção destes no poder.

Faz-se fundamental a ressalva de que totalitarismo surgiu por meio de mecanismos como a polícia, a propaganda e o terror, considerados como o tripé orientador do totalitarismo, e não, por meio de um golpe de um ditador desenfreado.

Desta forma, o desenvolvimento do Estado-nação está intrinsecamente relacionado ao anti-semitismo moderno, o qual banaliza atitudes cruéis, através de assassinos que matam impiedosamente, com o único objetivo da concretização da conquista nazista ao poder totalitário.

A consolidação dos regimes totalitários se deu pela sustentação do apoio das massas. Por sua vez, os elementos principais do projeto de regime totalitário tinham pressupostos como utilizar o terror como meio de disseminação do medo e dor, transformar classes sociais em massas e promover movimentos de massas, bem como transferir o poder do exército para a polícia.

Assim sendo, a prática do terror, assumiu a forma política e ideológica do regime totalitário, o que permitiu com que os grupos opressores agissem sem impedimentos, já que o princípio do medo neutralizava a ação política dos homens.

De acordo com Hannah Arendt, o terror não poderia apenas ser considerado uma disseminação do medo, mas um instrumento político, que determinava a forma de governo dos que mandavam aos que obedeciam, ou seja, com a aprovação das massas. Desta forma, o medo, como principal ferramenta do totalitarismo, anulava a participação e a crítica, bem como a ação política dos homens. Assim, a legitimidade do poder dos líderes no regime totalitarismo foi marcada intensamente pelo apoio das massas.

A crítica da razão governamental totalitária de Hannah Arendt ainda é pertinente na atualidade, tomando como exemplo, os genocídios, a acumulação de refugiados e outras questões contemporâneas. Para estas indagações atuais, vale ressaltar que a obra de Hannah Arendt, deve ser consultada como fonte clássica dos grandes fenômenos da filosofia política.

REFERÊNCIAS:

ALBINO, L. Hannah Arendt: O terror como forma de governo. In: BARROS, V.S.C.; ALMEIDA FILHO, A. Novo Manual de Ciência Política. 1. ed. Malheiros Editores, 2008.

ARENDT. H. Origens do totalitarismo. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/hdh_arendt_origens_totalitarismo.pdf. Acesso em: 07/2010.

FÉLIX, L. Hannah Arendt: No murmúrio da multidão, a consciência adormece. Conhecimentos sem fronteiras: artigos de filosofia. Disponível em: http://www.esdc.com.br/CSF/artigo_Hannah_Arendt.htm. Acesso em: 07/2010.

PERISSINOTT, R.M. Hannah Arendt, poder e a crítica da “Tradição”. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ln/n61/a07n61.pdf. Acesso em: 07/2010.

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